Chegando a Dubai, em posse das minhas malas e sem meu passaporte que havia sido entregue aos funcionários do setor de imigração para que providenciassem meu visto, fui levado de chofer até
Pela janela do carro eu via uma nova cidade, com tudo moderno, bonito... e arenoso. E o motorista ia, ia, ia... andava, andava, andava... mais um pouco a gente chegava no Piauí, mas não chegava no lugar onde eu moraria. De repente, acabou a cidade! Começamos a andar numa estrada cercada por areia e uma construção aqui e outra acolá. Depois de 40 minutos, chegamos a um lugar que tinha um imenso paredão de plantas, tipo uma daquelas "cercas verdes", o carro fez uma curva e entrou a direita. Chegávamos a um condomínio. Atravessamos o tal condomínio e, em meio a muito areia e um imenso NADA, lá estava um conjunto de dez prédios divididos em cinco blocos de duas torres cada um.
O nome desse lugar é SARAB, que em árabe quer dizer MIRAGEM. Não adianta procurar no google maps, não aparece! Apesar de os apartamentos serem novos e confortáveis, com todos os items de lazer (piscina, academia, sauna) não há NADA por perto. Sério mesmo. Há apenas dois mini mercados, uma cafeteria e a lavanderia onde deixamos nossos uniformes. Isso é tudo o que há num raio de uns 5 Km. A empresa sabe que esse é um lugar muito isolado, por isso mantem linhas gratuita de ônibus para um centro comercial que fica perto de lá, uma linha para o Mall of the Emirates (um shopping grande) e outra para a praia, além das linhas normais de ônibus que levam e trazem funcionários do/para o aeroporto. Dizem que essa espécie de "vila" pra funcionários era pra ser ainda maior e desenvolvida, mas, devido à crise de 2008 as obras de expansão foram adiadas por um tempo e estão sendo retomadas agora.
Até aí, tudo bem. Tudo novo, tudo lindo. Me despedi do novo coleguinha indiano e fui me "registrar" na recepção do prédio. O segurança, moço não muito amistoso, deve ter ficado meio chateado com a minha felicidade e resolveu testar suas ferraduras. Acontece de as pessoas terem vidas mais difíceis que as nossas e isso as endurecer. Prossegui rumo ao meu apartamento onde ocuparia a suite principal. Sorte de principiante, eu acho.
Devia ser por volta de meia noite quando cheguei. Usei minhas chaves, mas a porta estava trancada com aquela corrente de segurança por dentro, daí tive que tocar a campainha. Apareceu na porta um moço (que haveria de ser meu flatmate) e depois do meu feliz "oi, meu nome é Roberto, eu sou do Brasil, sou seu novo colega de apartamento, tudo bem?" ele só foi capaz de me responder: "Olha, eu não vou te dar atenção agora porque tenho voo as 4 da manhã"... virou as costas e me deixou na porta com duas malas e um, até então feliz, sorriso. Eu ainda perguntei se havia internet pra poder avisar minha familia que tinha chegado e a resposta foi: "depois conversamos sobre o valor da internet pra dividir, ok?". E ele foi pro seu quarto. Simples assim.
Eu abstraí esse ocorrido e fui pro meu quarto. Era a suíte principal e a empresa deixa pra você um pacote de boas vindas com comida para os próximos dois dias e caixas com sua louça, panelas, roupa de cama, toalhas e afins. Cada pessoa tem seu conjunto de panelas, pratos e talheres pra que quem é muçulmano, por exemplo, não tenha que cozinhar na mesma panela onde foi cozido algum derivado de porco. Tomei banho, arrumei minha cama e fui dormir. Depois de 15 horas de voo, mais duas horas no aeroporto e mais um passeio de carro, era tudo o que eu queria.
(Kit de boas vindas)
(Kit de itens básicos que eles fornecem)
Por volta das 4h da manhã, tocou a campainha e eu acordei. Uma mulher começa a falar alto na sala e o moço começa a falar alto também. A moça (com um sotaque britânico) canta, dá risada, ri, fala alto, fala baixo, bem baixinho, fala mole, sussurra, geme, geme, geme, geme, geme e por fim suspira.
(Sardinhas descobertas na geladeira)
(A pia)
(O fogão)
(O cinzeiro)
(A mesa de jantar)
Vou encurtar a história dizendo que depois de
CAMINHO DAS INDIAS
Nesse novo apartamento eu já não tinha mais a suite principal. Em um apartamento de 3 quartos, eu estava no quarto B, mas ainda assim cada um tinha seu respectivo banheiro, fora do quarto. Tudo ia bem. Esse menino indiano era muito gente boa: limpo, cozinhava, conversávamos e nos ajudávamos com as dúvidas do treinamento.
Uma semana depois, chegou outro indiano que inicialmente parecia ser uma pessoa igualmente bacana. Ledo engano, companheiros. Após um mês de convivência, eu já nem usava mais a cozinha de casa porque o segundo indiano não tinha muito apreço com a limpeza das coisas, sabe!? Cheguei ao ponto de prender a respiração na porta de casa, entrar correndo, ir pro meu quarto e só respirar lá de tão impregnado que o cheiro de certos temperos ficava na casa. A máquina de lavar roupas ficava em um canto/ entrada no corredor da casa que dava de frente pro meu quarto e do desse menino, e ele não via problemas em colocar roupas pra lavar as 11 da noite, por exemplo. O barulho da centrifuga da nossa máquina de lavar roupa era tão alto que parecia que tinha um Airbus 380 decolando no corredor de casa.
Outra situação comum era "o bonito" ficar batendo bola na parede da sala até altas horas. Um dia pedi pra que ele não fizesse aquilo naquele horário porque ambos tínhamos que acordar as 5h da manhã pra ir para o treinamento. E o que ele fez? Entrou no quarto dele, que era parede-com-parede com meu quarto e começou a bater a bola naquela parede. O que você faz com uma pessoa dessas? Vai matar? Não vai! Vai educar. Mas, olhe bem pra minha cara na foto do canto superior direito e pergunte-se se eu iria gastar meu vocabulário pedagogizando este ser!? NÃO. Nesse dia eu não dormi em casa.
Os três meses iniciais foram bem complicados! Somando a saudade de casa, o estranhamento com a nova cultura, a troca do "verde" das árvores pelo "bege" da areia, a dificuldade e as exigências do treinamento, mais esses pequenos porém chatos problemas na acomodação; meu desejo final era voltar pra casa. Isso não aconteceu porque eu eu fiz amigos super legais que me apoiaram e tive do meu lado duas anjinhas: uma loirinha (a "Fe") e uma dos olhos puxados (a "Naty").
Passado o treinamento, eu consegui mudar novamente de apartamento para um lugar na cidade. Moro agora em Al Qusais, um lugar que aparece no google maps. Estou morando no mesmo prédio que a Leide (aquela que fez o open day comigo em 2010) e estou bem satisfeito com minha localização. Moro perto do aeroporto e a uns 20 minutos da Sheik Zaied Road. Moro perto de uma estação de metrô, em um prédio que conta com piscina na cobertura, sauna, mercado logo atrás, academia, pista de corrida com chão emborrachado na cobertura, academia paga no térreo e fica na frente de um pequeno parque com árvores e um gramado - gostoso pra passar uma tarde de leitura. Agora eu moro com um brasileiro super gente boa, limpo e camarada e entro em casa respirando. Somos só nós dois no apartamento e agora tenho minha própria suite com banheira. Tá ótimo! Pra ajudar ainda mais, moro pertinho da Fe, e a Naty conseguiu se mudar do Sarab para o mesmo prédio que eu.
O FATOR SURPRESA!
Agora você deve estar se perguntando: mas, como tem gente que vai pra lugares legais e outros pra lugares nem tão legais? (só deixando claro que todas as acomodações da empresa são boas - a maioria é ótima - com boa manutenção, portaria 24hs e estrutura de lazer). A resposta é simples: sorte! Pode ser que você vá pra um ótimo apartamento no coração da cidade e pode ser que você vá pra essa vila mais afastada. Pode ser que seu colega de apartamento seja legal, pode ser que não. Você pode ir pra um prédio mais novo ou pra um mais velhinho. Pura sorte.
O bom é que mesmo quem tem uma sorte
Bem, eu acho que depois dessa postagem ficou mais claro o porque de eu não ter escrito aqui no blog por um bom tempo. Mas, agora também está tudo explicado. Desculpem pelo tamanho do texto, mas não queria perder detalhes e memórias. Espero que tenham gostado.
É isso aí, vamos voar!